Seu Zé Pelintra, assim como
outros guias que trabalham no Catimbó, trabalha também na
umbanda.
Na medida em que o Catimbó
entra na área urbana, território típico da Umbanda,
ou mesmo a Umbanda vai para o interior estas duas práticas tem que
se encontrar. É neste momento que certamente Zé Pelintra
entra para o Catimbó.Isto certamente ocorre nos centros onde pessoas
de Umbanda também trabalham com mestres e provavelmente já
eram de Umbanda e absorvem o Catimbó em um movimento muito típico
da Umbanda que absorve várias Religiões e Culturas (deixo
claro aqui que os adeptos de Catimbó de Raiz, negam o Zé
Pelintra como sendo um Mestre do Catimbó, então tentando
observar ambas verdades, coloco esta possível negação
e as devidas explicações como poderia ser o ingresso deste
Guia no Catimbó, ou seja, onde está em destaque).
No Catimbó ele é Mestre,
e por ser uma entidade diferente das que são cultuadas na Umbanda,
ele não trabalha numa linha específica, porém, sua
participação mais ativa seria na gira de baianos, exus e,
em raros casos, pretos velhos. Seu Zé pode aparecer, portanto, em
qualquer gira, desde que seu trabalho seja realmente necessário.
Apesar de ser um espírito
“boêmio”, “malandro” e brincalhão, este ente de luz, trabalha
com seriedade e mesmo com a fama que possui, de beberrão, não
é bem assim que as coisas funcionam. Seu Zé cobra muito de
seus médiuns, cobra por seriedade, responsabilidade entre outras
virtudes e é o primeiro guia que se afasta do médium quando
este não segue seus conselhos e não adota a boa moral e conduta
pregada por ele, ou seja, um “cavalo de Seu Zé”, deve ser honesto,
trabalhar com firmeza para o bem, para a caridade, não pode ser
adúltero, beberrão, pois ele não admite isso de seu
médium.
Muitos confundem, pois aquela imagem,
de boemia, de adultério, de noitadas, jogos, prostituição,
podem apenas ter sido passado dele, como eu disse, é um ente de
luz que trabalha bem.
Na direita ele vem na linha de baianos
e pretos velhos, fuma cigarro de palha, bebe batida de coco, pinga coquinhos
ou simplesmente cachaça, sempre com sua tradicional vestimenta.
Calça branca, sapato branco (ou branco e vermelho), seu terno branco,
sua gravata vermelha, seu chapéu branco com uma fita vermelha ou
chapéu de palha e finalmente sua bengala.
Duas características marcantes:
Uma é de ser muito brincalhão,
gosta muito de dançar, principalmente Xaxado (Dança popular
do sertão nordestino, cujo nome foi dado devido ao som do ruído
que as sandálias dos cangaceiros faziam ao arrastarem sobre o solo
durante as comemorações celebradas nos momentos de glória
do grupo de “Lampião”, considerado entre outras denominações
o “Rei do Cangaço), gosta muito da presença de mulheres,
gosta de elogiá-las, etc.
Outra é ficar mais sério,
parado num canto assim como sua imagem gosta de observar o movimento ao
seu redor, mas sem perder suas características.
Agora quando ele vira para o lado
esquerdo, a situação muda um pouco, em alguns terreiros ele
pede uma outra roupa, um terno preto, calças e sapatos também
pretos, gravata vermelha e uma cartola, fuma charutos, bebe marafa, conhaque
e uísque, até muda um pouco sua voz. Em alguns terreiros
ele usa até uma capa preta.
E outra característica dele
é continuar com a mesma roupa da direita, com um sapato de cor diferente,
fuma cigarros ou cigarrilhas, bebe batidas e pinga de coquinho, e sempre
muito brincalhão e extrovertido.Trabalha muito com bonecos, agulhas,
cocos, pemba, ervas, frutas, velas,etc..
Zé Pelintra: origem e
história
Personagem bastante conhecido seja
por freqüentadores das religiões onde atua como entidade,
por sua notável malandragem, Seu Zé tem sua imagem reconhecida
como um ícone, um representante, o verdadeiro estereótipo
do malandro, ou porque não dizer, da malandragem brasileira e mais
especificamente, carioca. Não raro, encontra-se pessoas que o conhecem
de nome pela sua malandragem, mas não sabem que este é uma
entidade do Catimbó e da Umbanda; outras já o viram retratado
inúmeras vezes, mas não sabiam que se tratava de “alguém”
e também encontraremos os que o conhecem apenas como entidade e
desconhecem sua origem e história, estes porém, menos freqüentes.
O fato é que a figura de Zé Pelintra, de uma forma ou de
outra, permeia o imaginário popular da cultura brasileira e é
retratada de diversas maneiras.
Por exemplo:
Na década de 1970 Chico Buarque
cria sua Ópera do Malandro. Para o cartaz do espetáculo teatral
o artista Maurício Arraes utiliza a figura de Zé Pelintra
mesclada aos traços faciais de Chico Buarque .
No início da década
de 1990, o cineasta Roberto Moura lança Katharsis: histórias
dos anos 80, “com Grande Othelo no papel de Zé Pelintra, e este
seria o último longa-metragem desse emblemático ator negro”,
lembra Ligiéro (2004).
Até mesmo a figura de Zé
Carioca, personagem de Walt Disney teria sido inspirado em Seu Zé.
Ligiéro conta a história:
Em 1940, Walt Disney fez uma viagem ao Brasil como parte do programa “política
da boa vizinhança” criado pelo governo norte-americano – para pesquisar
um novo personagem tipicamente brasileiro. Na ocasião, foi levado
com sua equipe de desenhistas para conhecer a Escola de Samba da Portela.
Naquela noite, a nata do samba reuniu-se, como fizera alguns anos antes
com a visita de Josephine Baker ao Rio de janeiro. Lá estavam as
figuras mais importantes do mundo do samba – Cartola, Paulo da Portela,
Heitor dos Prazeres…
Conta-se que foi Paulo – falante
e elegante – quem realmente impressionou Walt Disney e o inspirou a criar
o personagem Zé Carioca. Na ocasião o sambista não
estava todo de branco, tinha apenas o paletó nessa cor, mas foi
o suficiente, pois essa peça passou a ser a marca de Zé Carioca
[...] (Ibidem, p. 10)
O Zé Carioca do Disney,
que passou a ser um símbolo do Rio de Janeiro e do próprio
Brasil no exterior, fuma charuto e tem um guarda-chuva que ele maneja como
uma bengala.
O terno de linho branco tornou-se
o símbolo do malandro por ser vistoso, de caimento perfeito, largo
e próprio para a capoeiragem. Para o malandro, lutar sem sujá-lo
era uma forma de mostrar habilidade e superioridade no jogo de corpo. Ao
contrário dos executivos de sua época, que tentavam imitar
os ingleses, o malandro não usava casimira, tecido pouco apropriado
para o clima úmido dos trópicos.
Seu Zé destacava-se pela
elegância e competência como negro [...]. Numa época
em que os negros e brancos viviam praticamente isolados, apesar da existência
de uma numerosa população mestiça nas grandes cidades
brasileiras, vamos observar que a figura do malandro torna-se representativa
da dignidade do negro deixando para trás a idéia de um negro
“arrasta-pé”, maltrapilho ou simples trabalhador braçal (Ibidem,
p. 101-2).
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